99 poemas de DELALANDE
o sorriso cristaliza a disponibilidade do teu corpo para sentir
não precisas dizer o como ou o quanto é bom porque em ti tudo transcomunica
a desigualidade reordena e re-equaliza
o rumor rumina os pluriversos
sou o um o dual o múltiplo assim como a sua soma e a sua subtração
o eu constitui-se através de heteronomias selvagens
através de falhanços vou polindo a minha ignorância
todas as simltaneadades reinventam as medidas e as distâncias
ando a tentar vestir o mundo com a sua própria roupa
o meu nome faz-me andar algo longe de mim
Pierre Delalande são palavras que me estão atravessadas na garganta
Pessoa foi um masturbador de almas e a modernidade também
a leveza confunde-se com os teus passos
exagera excluí aproveita
gosto de dar abraços calorosos
perco pressupostos sempre que agradeço
uma dúvida fecunda que se manifesta como amor
avassalador
ponho titúlos que dão pulos e parenteses que lhes são parentes
ando a responder como quem esconde perguntas novas
entre o antes e o depois com o tempo debruçado para os dois lados
os números descontam
que questões podem reaparecer
repito a pergunta da mesma maneira para a tornar mais obscura
apaixono-me por tantos talvezes
mascaro-me de micropartículas
as abreviaturas acham-me intolerável
o Sr. Delalande tem personalidade de pulga
sarcófagos com sarcasmos mumificados
como um sonho no sonho como uma sombra de sombra como um satori no inferno
calhar é conseguir
o espirito santo foi o meu agente secreto
as edições dos meus livros têm sido clandestinas
a realidade é uma conjectura escabrosa que ainda não foi formulada
faço exposições em não-meditações de budas
desorquestrar
sou o que deslargou o sucesso
inacabar os primeiros passos
o dourado é a máscara mais infame de Deus
autocriticismo carnavalesco como método crítico
na boa de borla
as cores são as minhas favoritas
sente como quem infrige convicções
hipóteses inconsistentes a fabricar verdades
eu gosto a seis a nove e a zero
muito mais acessível que qualquer famoso
o encantamento pelo desapego
balbucia mmmmm
todos me podem colocar na internet
ser extraordinário na solidão
deslargo-me de Delalande
o vazio remistura as minhas multiplicidades
gosto de sofistas para desfrutar de enganos
teleputo-me
somos a mesma múltiplicidade a fingir pessoas
as minhas obras-primas não precisam de ser minhas nem apropriadas
nem famas nem anonimatos
só os afectos reencarnam
há um deus de borla em cada um
os fundamentos das matemáticas anda a enganar a ciência
não me lembro de onde vinha a aragem quando nasci
o sedentarismo é a arte de engordar na quietude ou de emagrecer no ascetismo
tudo o que tentas dizer para que talvez seja
a imperfeição que vai aperfeiçoando
pergunta que morde o seu rabo
os quadrados pretos de Reinhardt e os campésticos de Lapa
um incêndio num museu são saldos pomposos
uso uma linguagem que despediu os guarda-costas
as vedutas em Lisboa são tão luninosas que é preciso òculos escuros
quero mais imperfeições que iludam
um livro com evasões para outras formas de tempo
expus malentendidos ao tentar perceber-te
literatura que me potência graças a si
que assim-assim preferes?
desaponto-me como uma comédia
exploro os talvezes para roubar o rigor ao não-saber
tesão exponenciado
as palavras refazem-te depressa
a oportunidade é o sentido dos milagres
suspiro como pontuação perguiçosa do mundo
nomes a cavalgar o olhar são suplementos de beleza
imobilidades que rolam
tentativas apimentadas por desconsiderações
geometrias bebés a babarem o informe
folhear muitos livros num só
uma autobiografia em notas de rodapé ao nada
mostra o génio de cada um ao mesmo tempo de muitas maneiras
a influência como empréstimo intransmissível
um sim duvidoso que se precepita na confiança absoluta
eu serve para fazer colagens a partir de um som maluco
a elegância dos escritos rasurados
sublimei para dessublimar
deixei-te num abraço
uma nota de rodapé rapada
a imagem das letras é já uma forma de perguntar
confundo politico com poliptico
um superlativo a imitar um caniche
a afirmação é um apetite sequêncial
a novidade é o que navega no nove