Thursday, August 02, 2012

99 poemas de DELALANDE




os poemas dinamitam a perfeição


o sorriso cristaliza a disponibilidade do teu corpo para sentir


não precisas dizer o como ou o quanto é bom porque em ti tudo transcomunica


a desigualidade reordena e re-equaliza


o rumor rumina os pluriversos


sou o um o dual o múltiplo assim como a sua soma e a sua subtração


o eu constitui-se através de heteronomias selvagens


através de falhanços vou polindo a minha ignorância
























todas as simltaneadades reinventam as medidas e as distâncias


ando a tentar vestir o mundo com a sua própria roupa


o meu nome faz-me andar algo longe de mim


Pierre Delalande são palavras que me estão atravessadas na garganta


Pessoa foi um masturbador de almas e a modernidade também


a leveza confunde-se com os teus passos


exagera excluí aproveita


gosto de dar abraços calorosos


perco pressupostos sempre que agradeço


uma dúvida fecunda que se manifesta como amor 
avassalador


ponho titúlos que dão pulos e parenteses que lhes são parentes


ando a responder como quem esconde perguntas novas


entre o antes e o depois com o tempo debruçado para os dois lados


os números descontam


que questões podem reaparecer


repito a pergunta da mesma maneira para a tornar mais obscura


apaixono-me por tantos talvezes


mascaro-me de micropartículas


as abreviaturas acham-me intolerável


o Sr. Delalande tem personalidade de pulga


sarcófagos com sarcasmos mumificados


como um sonho no sonho como uma sombra de sombra como um satori no inferno


calhar é conseguir


o espirito santo foi o meu agente secreto


as edições dos meus livros têm sido clandestinas


a realidade é uma conjectura escabrosa que ainda não foi formulada


faço exposições em não-meditações de budas


desorquestrar


sou o que deslargou o sucesso


inacabar os primeiros passos


o dourado é a máscara mais infame de Deus


autocriticismo carnavalesco como método crítico


na boa de borla


as cores são as minhas favoritas


sente como quem infrige convicções


hipóteses inconsistentes a fabricar verdades


eu gosto a seis a nove e a zero


muito mais acessível que qualquer famoso


o encantamento pelo desapego


balbucia mmmmm


todos me podem colocar na internet


ser extraordinário na solidão


deslargo-me de Delalande





o vazio remistura as minhas multiplicidades


gosto de sofistas para desfrutar de enganos


teleputo-me


somos a mesma múltiplicidade a fingir pessoas


as minhas obras-primas não precisam de ser minhas nem apropriadas


nem famas nem anonimatos


só os afectos reencarnam


há um deus de borla em cada um


os fundamentos das matemáticas anda a enganar a ciência


não me lembro de onde vinha a aragem quando nasci


o sedentarismo é a arte de engordar na quietude ou de emagrecer no ascetismo


tudo o que tentas dizer para que talvez seja


a imperfeição que vai aperfeiçoando


pergunta que morde o seu rabo


os quadrados pretos de Reinhardt e os campésticos de Lapa


um incêndio num museu são saldos pomposos


uso uma linguagem que despediu os guarda-costas


as vedutas em Lisboa são tão luninosas que é preciso òculos escuros


quero mais imperfeições que iludam


um livro com evasões para outras formas de tempo


expus malentendidos ao tentar perceber-te


literatura que me potência graças a si


que assim-assim preferes?


desaponto-me como uma comédia


exploro os talvezes para roubar o rigor ao não-saber


tesão exponenciado


as palavras refazem-te depressa


a oportunidade é o sentido dos milagres


suspiro como pontuação perguiçosa do mundo


nomes a cavalgar o olhar são suplementos de beleza


imobilidades que rolam


tentativas apimentadas por desconsiderações


geometrias bebés a babarem o informe


folhear muitos livros num só


uma autobiografia em notas de rodapé ao nada


mostra o génio de cada um ao mesmo tempo de muitas maneiras


a influência como empréstimo intransmissível


um sim duvidoso que se precepita na confiança absoluta


eu serve para fazer colagens a partir de um som maluco


a elegância dos escritos rasurados


sublimei para dessublimar


deixei-te num abraço


uma nota de rodapé rapada


a imagem das letras é já uma forma de perguntar


confundo politico com poliptico


um superlativo a imitar um caniche


a afirmação é um apetite sequêncial


a novidade é o que navega no nove