As distinções cruciais confundem-se com capitulações.
A persistência faz o carrasco.
Ele prefere expressões que hesitam em ir por caminhos alheios, mas ainda gosta menos das que ficam em casa.
O assunto ao fim de algum tempo acaba por rolar no chão.
Corta cabeças para refutar a sua.
Escreve para que a intimidade alheia seja excessiva e problemática.
Uma escrita «aberta» acaba por fechar muitas portas.
A complexidade monta em frases fáceis para andar mais depressa... e ao contrário.
As pessoas demasiado subtis tornam a comunicabilidade impraticável.
Tem algumas auto-consciências postiças para dissimular a que foi decapitada.
Escreve notas porque evita o livro. Publica livros para fazer desaparecer as notas.
A interrogação como elisão do seu objecto.
As cores não ignoram as circunstâncias.
O potencial esgota-se na propensão para o acontecimento. Os acontecimentos não se esgotam neles.
O carrascão elucida mais a lucidez do que um bom borgonhês.
Apesar de se declarar inexperiente tornou-se um expert na inexperiência.
Só se consegue lembrar daquilo a que não prestou atenção.
Triplicou-se no indescritível.
Faz caminhadas para se limpar das ideias.
Ajuda as pessoas a não pensar só nelas nem só nos outros.
Tenta comercializar o anonimato sem lucro.
Escreve mas não fala. Em ambos os casos opta pelo silêncio contra o silêncio.
Reforça-se refutando-se.
A objectividade é uma alucinação. Ele inexacto.
O mundo nunca poderá escrever a sua atribulada história.
As palavras acabam por descrevê-lo exactamente como não é. Isso fá-lo sorrir.
A distância encena as aproximações.
A maior parte das questões gostaria de se tornar carnívora.
Sexo sem sexo? Ou deboche como ascese?
As expressões que usa, apesar de aparência fraca, acabam por induzir muita gente a coisas fortes.
O mundo é maquilhagem. Porquê limpá-la.
Ele é a prosa mesquinha das línguas maternas. O lirismo chegará mais tarde, só para chatear.
A prosa torna as coisas rudes mais contornáveis.
Há respostas a mais para perguntas medíocres mas não há nenhuma para as interessantes.
Os romances são escritos ao lado das interrogações.
O desaparecimento das perguntas tornou-se num romance policial.
As coisas ordinárias são as que realizam as pessoas extraordinárias. Ninguém realiza coisas extraordinárias?
Antes de o lerem já o acham um imbecil. Depois de o lerem acabam por achá-lo um poltrão.
Quem é que tem paciência para viver mais de 200 anos?
A todo o momento se desconcentrava.
Não podia regressar ao ponto de partida porque lho tinham roubado.
Não conseguia pensar nisso embora já começasse a esquecê-lo.
Não se conseguia reconciliar com qualquer feitio burocrático.
Cada linha que escrevia sobrava-lhe à retórica do terror.
Admitia o riso como dispositivo de tradução na escuridão.
Enunciava o que desconhecia como se fosse a coisa mais importante.
Só colocava hipóteses numa linguagem hipotética.
Sentia a novidade como clima propício para a futura banalidade.
Quando um tigre de papel a rugir aqui - chuvas ácidas acolá.
Tinham-lhe cortado a língua para que pudesse falar pelos cotovelos.
A tagarelice alheia provocava-lhe a sensação de que era ventríloquo.
O que é que ocorre antes do nome das coisas?
Usava os adjectivos como uma forma de animalização.
Exercitava-se num rigoroso strip-tease verbal. O que é que está nu dentro das palavras?
À falta de citações adequadas tinha que forjar falsas.
Podia não ter graça, mas dava-lhe vontade de rir. O quê?
Pode ser um tipo fácil, mas acabará por rondar as tuas ideias como uma fera faminta.
As questões abortavam porque não encontravam assuntos.
A vontade de ser animal coexistia com a de ser planta, mas desenraizada e se possível com asas.
Se fosse Deus não seria tão agarrado ao mundo.
Procurava oportunidades para concretizar falhanços.
Xaropes de ideias brilhantes.
Pedais para acelerar o entusiasmo.
O sucesso como recusa não deliberada.
Alguma percentagem de ideias e muita de Vazio.
Quando Deus inventou o Diabo só quereria tornar esta peça mais interessante?
Em vez de um mundo melhor, um mundo maior? Diabólicos melhoramentos?
O objectivo paradoxal da massificação é tornar tudo incorpóreo.
Os mortos meditam na carne e têm fome.
Não se lembra de nenhuma especificidade curricular excepto esta.
Folheia os livros para os ler nas ordens erradas.
Há alguma possibilidade que ainda seja impossível.
Viver tornou-se-lhe uma tarefa fácil, apesar da indisciplina.
Escrevia a autobiografia como se fosse numerosos inimigos.
Ter respostas chatas como pulgas.
Antes de aldrabarem os outros os místicos aldrabam-se a si mesmos. Ele autoproclamva-se aldrabão profissional mas não sabia sê-lo.
Ele era a pessoa com a identidade errada.
Os números precisam de mais dedos para serem contados.
Os mais belos desejos aumentam o esplendor das criaturas.
Estava possesso embora sem sentido de posse.
O alívio justifica e dispensa a filosofia.
A fúria do mundo deixava-o ainda mais apaixonado.
Quando nascemos as palavras que aprendemos vêm hipotecadas.
Uma autobiografia em duas linhas não justifica uma vida plena.
Fazia publicidade ao exibir os frequentes erros.
Sentia-se tão estúpido por se estar a enriquecer sem ter riqueza.
Preferia a exuberância a qualquer essência.
Desfazia-se da argumentação embora desconfiasse da intuição.
Aumentava o conhecimento para o tornar mais incompleto.
Quando dizia, o que tinha para dizer ficava invisível.
Por cada palavra riscada acrescentava uma dúzia.
A glória ou o inesquecível sob a capa do anonimato.
O sublime como uma rasteira.
Seria mais correcto pedir explicações ao acaso.
Tudo no testamento era mentira.
Tinha um nariz implantado entre as pernas.
O equívoco persistente, mesmo antes e depois do mundo.
O epitáfio: «Cuidado! Ainda não estou farto de renascer!»
Cresce obliquamente na ubiquidade.
As parábolas exageram nas palavras mas não nos factos.